29 de set. de 2011

Um colírio para a mente

   Às vezes desejo esquecer-te. Às vezes desejo. Mas quanto mais descarto, mais fixa na mente. E fortifica. Constrói, aos poucos, um forte indestrutível. Um abrigo para o sonho medroso. A vontade desmedida de ser correspondida.
   
         Queria que o sol acordasse. Não a mim, mas a ele mesmo. Afastasse de si o receio. A preguiça indesejada de doar luz. Chacoalhasse as trevas que circundam o belo. Que desentortasse as curvas, formando uma linha reta que não leve ao esquecimento.

     - O que quero afastar já faz parte de mim. Não consigo mais. É como corte profundo cuja cicatrização independe da minha vontade... Mas depois desaparece. E pode ser que, infelizmente, você também vá.
       - Mas não é isso o que tu querias?
       - Não. É o que eu achava que desejava.                                                    


by Rachel Nunes*


Imagem: weheartit

18 de set. de 2011

Cadê o laço?

imagem: weheartit
      O café posto à mesa como numa refeição de natal. Mas não se trata de uma celebração. É só o nó. O aperto, sabe? E o café puro cura.
      Esquisito isso, não é? Mas é exatamente assim. Você não leu errado. E olhe que eu nem gosto muito da tal bebida. Ah, sei lá... Às vezes ela é segurança. Um "certo" nessa vida. Um amargo que conheço bem. Não o sabor aromático, mas o aroma do sabor "amorífico".    
      Não faz mal se não entender essa frase. É só uma sentença. Uma das que tento esquecer por enquanto. Até ter coragem para recusar o esquecer.


by Rachel Nunes*

                       

12 de set. de 2011

A volta no ar.

Cor pálida,
Som de terra,
ar de crisálida.

Ela desabrocha
Sem perceber o perfume inédito.

São com flores que ela enxuga as lágrimas.

Porque para curar ferida interna
Só mesmo o amor.
O que machuca e sara.

 O punhal no peito,
O tiro na água,
O sapato furado no teto.


by Rachel Nunes*



imagem: weheartit

7 de set. de 2011

Ainda não parou

                                                                   imagem: weheartit



           Não consegue ver que ainda balanço o pêndulo? 
Que ainda espero uma reação? 

Não sei por que, mas sou assim:
 estico os olhos para tentar ver o que eles não conseguem. 

Não suporto a ideia de nunca sentir o vir e só ter o ir. 
Na minha perturbada inquietude, na floresta tenebrosa do nunca. 
Necessitando de um feixe de luz no meio das folhas.



by Rachel Nunes*

1 de set. de 2011

Amorfrenia

                                                                      imagem: weheartit


                  
  Flores inquietas esperando a primavera nos meus olhos.
        Para desabrocharem e beijarem o vento.

Há tempos fixaram-se no solo da minha alma.
Aguardando, numa turva calma,
A chuva que rejuvenesce.
Que enraíza o encanto
E estende o tapete vermelho do tempo.

Botões de flores esperando a primavera nos teus olhos.
Para concretizar um ideal
E retirar a maquiagem do amor.
Olhos limpos na varanda do quarto,
Avistando o jardim e ignorando as folhas secas
Que as cores tentam esconder.

Como eu queria que não houvesse inverno em tua morada...
Só a estação das flores e do sol.
Só o aroma e o brilho
Que não permitem a ignorância.

Como eu anseio pelas tuas palavras sinceras que ainda não vieram...
E que me seriam tão benéficas.

Às vezes chove e não molha.
Às vezes os pássaros cantam e não escuto.
Às vezes a ansiedade é maior que a percepção do real.
Às vezes a espera é muita e a recompensa pouca.

Às vezes não vem.
Simplesmente porque não foi.
Porque nunca existiu.
Porque é só imaginação.
Porque é esquizofrenia do coração.



by Rachel Nunes*