15 de dez. de 2012

Via estreita


imagem: weheartit




Como chegamos até aqui?
Eu sei que parti.
Lembro que calei,
Entendo que não escutei,
Não ouvi o que pensei.
Machuquei, mas não sei o que falei.

Eu sei...
Não digo.
Eu assumo...
Não minto.
Eu paro...
E sigo.

Eu sinto,
Você entende.
Eu pulso,
Nada treme.

Não adianta,
É forte.
Não fique,
É morte.

Não prenda,
Já foi.


O que significa uma falta para o que sobra?



by Rachel Nunes*

30 de nov. de 2012

(In)acabado

imagem: weheartit


Inquietava.
Não era ruim, eu sabia.
Não havia compasso, mas eu andava.
Às vezes, caía no seu abraço e


C
A
Í
A
...


Alguma brisa arrastava,
Varria da alma
E despejava:
Caminhos azuis,
As feras do passado;
A risada alta do desespero.

Espero...
As folhas bagunçadas pelo vento.

O mal insistiu na cabana arruinada.
Vi o manto preto cair mostrando o sol
 E a parede subir trazendo a escuridão parada.

O quadro balançou,
Eu pensei numa saída.
A porta bateu,
Você saiu... 

A partida.

Nas ruínas,
Destaquei borboletas,
Engoli brilhos para ver se eu via
O bem que antes sumia.
(Não me enganei, existia).


Sim, eu tinha:
Todas as armas,
Toda magia;
Nenhuma coragem,
Alguma força.


by Rachel Nunes*

17 de nov. de 2012

Quão distante?

imagem: weheartit


(Vidro quebrado)
Na janela de madeira descascada,
Eu vejo longe o perto de mim.
Na lâmpada queimada,
Contemplo o que abandonei no fim –
Copo meio cheio e vazio por inteiro.

(Fogueira apagada)
Fora da casa, na praia cintila:
O fogo da razão,
O frio agoniante da imensidão.

(A porta cai)
Do nada.
De repente, o tudo.
Toda a confusão que a calma leva consigo.

(Saiu da janela)
E agora, onde está?
Tão perto do sim
Ou tão longe de si?


by Rachel Nunes*

12 de out. de 2012

Terremoto.

imagem: weheartit



Tortura é o que dilacera aquilo que o não ver não sabe o que é.


Vai e não passa.
Esquenta e não congela.
Faz de uma alma a morada do desterro.
Enterra no ar a palavra que desata o nó.
Desamarra no solo o grito da dor
De quem amolece a rocha da água
E apodrece.
Fede no espírito o que o amor conservou. 
Cospe na carne de um gêmeo desconhecido.

Sempre...
Perdoar toda a falta do presente,
Descartar a alegria do que mente,
Estremecer a folha da calmaria,
Saborear a doce agonia.


by Rachel Nunes*

30 de ago. de 2012

(ver)dade.

imagem: weheartit
 
 
Não entende.
 
Será este o ponto-chave de tudo o que vivemos?
Por que será que gosto tanto deste verbo?
O que vejo nele?
Será o passado que insisto em evitar experimentar
Ou será o futuro que não desejo lembrar?
 
O que será daquilo que não vejo?
Será que ainda há solução para o invisível?
Será ele a própria cura?
 
O que mais pode ser de alguém  que nunca foi?
O que precisa acontecer
 Até que a poesia desista e vá embora?
 
 
by Rachel Nunes*
 

30 de jul. de 2012

Repetição



imagem: weheartit


Continua a cantar.
Custa a quebrar.

Carina custou a desistir.
No dia decisivo
O fato perdeu o faro.

Ao pé da janela 
Coração apunhalado por um caco - 
Pequeno pedaço 
De um frasco fraco
 De alguma bebida dura.

Dura vida que em fumaça desaparece...

E não é que parece mesmo!
O que pára é o mesmo que canta?

E ali ainda ecoa
Num canto da sala
O mesmo canto de sempre:

Três passadas, dois suspiros, um solo.

by Rachel Nunes*

13 de jul. de 2012

Das certezas

imagem: weheartit


Parece até que o impossível pode mudar.
Parece até que o abismo é o mesmo lugar:
Uma areia molhada, dois pés que afundam.

Parece até que a brisa nunca morre.
Que a chuva é a contínua sorte.

Parece até que a carne é sincera.
Que a primavera nunca congela.

Parece até que a ventania é distante.
Que a vida não passa de um caminho errante.

Parece até que a estrada é deserta.
Que a saída é uma porta aberta.



Tudo parece muito certo, limpo e fácil,
Quando quem abre os olhos é o tão conhecido, o hábil,
O mais perfeito, o estranho,
O doce mar, o desengano.


by Rachel Nunes*

18 de jun. de 2012

Cativeiro da (ir)realidade


imagem: tumblr


Aprisionados.

Entre paredes
De aço molhado pela frieza,
Congelado pela fraqueza,
Habitantes amordaçados
Com a fita da pobreza.

Janelas de vidro cegas,
Olhos de carne apodrecida.

Mãos escorregadias,
 Mente traída,
Por quem não somente
Diz a verdade,
 Levanta a bandeira da mentira.

A quem não fala, a fome.
A quem não vê, aquilo que ganha e some.

__“Atirem pedras na janela! É a revolução!"
__“Não! Nessa casa estão as armas, não o ladrão”.

by Rachel Nunes*

19 de mai. de 2012

Cor/ação

imagem: tumblr


Gota vermelha toca o chão,
Vira flor.

Chuva pálida no céu,
Molha a alma.
Encharca o mar de nuvens ressecadas.

O calor do cansaço evapora o fluido doloroso.
Para continuar o ciclo,
Para perpetuar a cor da flor.


by Rachel Nunes*



" So, how are you?
I'm doing well.
I'm fighting tears, you couldn't tell
I'm not as strong as you thought I was ". 









8 de mai. de 2012

É só o mar, amor.

imagem: weheartit


Escorre, escorre...
A lágrima corre.
Ela é ex da alma,
É filha da calma.

Na pressa percorre,
No caminho peleja.
Na vida cala,
Na mente lateja.

Pobre gota sedenta 
Num mar de pedra...

Oxalá um dia tu venhas a saciar 
Alguma dor
Com o que alguém mais careça:
O amor.


by Rachel Nunes*


Na onda: I've Got Your Number - Passion Pit 





25 de abr. de 2012

Contorno


imagem: tumblr



Aprendi na marra
O que o nó não ata,
O que o calor não mata,
O que o dó não cata.

Joguei no beco,
O que pensei ser erro,
O que esqueci, por medo,
O que soltei preso.

Descartei com fome
A dor que consome.
Bradei: qual o nome
Daquele que some?

Cortei o pano
Do amor, o insano.
Será este o meu engano:
Não ver o claro além do dano?


by Rachel Nunes*

16 de abr. de 2012

Futuro do pretérito

imagem: weheartit


Você não faz ideia do quanto perdeu.
Todo esse tempo, nesse momento.
Para sempre, a partir de agora,
Você perde(u) muito.



by Rachel Nunes*

2 de abr. de 2012

Medidas erradas

imagem: weheartit


Aquilo que lhe falta, não parece, mas sou eu.
A luz é aquela que entardeceu.
A sombra não esconde, permaneceu.
O seu amor não se perdeu.
Numa estrada perigosa apenas esqueceu
A profundeza do prato,
A caridade do tato,
A esquisitice do amor enojado,
De palavras mal cozidas, assadas e servidas
Numa mesa de desgosto açucarado.


by Rachel Nunes

11 de mar. de 2012

Correntes.

imagem: tumblr


Aprisionaram-nos,
Retiraram nossas asas,
Sufocaram nosso vazio
 E encheram com nada.

Nesse mundo, o tudo é a prisão.
Para minha rota,
O jardim é a satisfação.

Do canteiro de palavras, 
Não dá para ver a prisão
Que encarcera a mente,
Mas não prende o meu coração.

Há espinhos no caminho,
Mas a viagem é doce.

Se estiveres sozinho, 
Lembre que duas prisões
Formam juntas uma liberdade.


by Rachel Nunes*


27 de jan. de 2012

This is it.

imagem: weheartit


Eu não quero mais.
Desisti.
Tão arduamente, no meio do caminho.

Eu vi o sinal de "pare",
Eu parti no primeiro trem,
Na primeira poltrona,
Perto da porta de chegada.

Eu cansei da espera.
Resolvi esperar pela certeza.

by Rachel Nunes*